
Não tive oportunidade de ver o original com Harvey Keitel, mas parece-me que existem motivos suficientes para este remake.
Magistralmente interpretado por Romain Duris, Tom é um homem que ganha a vida como agente imobiliário. Negoceia prédios abandonados e, caso seja necessário, recorre à violência para que nenhum 'penetra' lhe estrague o trabalho. Em criança tinha um gosto pelo piano que partilhava com sua mãe, pianista profissional, mas, depois da sua morte, Tom esqueceu a música e seguiu as pegadas do pai.
Quando a sua vida começava a tomar um rumo pouco satisfatório, Tom encontra o antigo agente de música da sua mãe que imediatamente faz nascer em si a vontade de voltar a tocar piano. Confiante de que uma nova tentativa numa carreira musical o realizará, prepara-se para uma audição. O seu mundo transforma-se então num misto de ambição e frustração. A par disto os seus problemas de trabalho e a relação problemática com o seu pai não lhe dão descanso.
O sonho de que nunca é tarde prevalece em todos nós, por mais novos que sejamos pensamos sempre se o rumo que estamos a tomar é o mais correcto. Sofremos pressões da família, dos amigos, da sociedade em geral e nem sempre seguimos o caminho que o nosso coração manda. Aqui o coração mandava Tom tocar. Ele respondeu ao apelo do coração. Decidiu provar a si mesmo de que era capaz.
Mais do que capaz é a realização de Jaques Audiard. Os seus planos pessoais e bastante próximos dos personagens dão-nos uma visão mais humana de cada um, mais real. E especialmente Tom é seguido com uma câmera contantemente em cima da sua cara incapacitando-o de esconder as suas expressões sejam elas de medo, de frustração ou de gozo. Temos noção de que há ali uma pessoa que nos faz vibrar. Somos meras teclas de piano que vão soltando a música que Tom nos inflinge. E ao mesmo tempo que tocamos sinfonias fenomenais também podemos apenas ser notas ao acaso, que juntas não fazem mais do que barulho. Daquele que dói só de ouvir.
Nenhuma destas emoções seriam possíveis não fosse Romain Duris. Ele é a alma e o corpo deste filme. Numa das mais brilhantes actuações do ano ele é o complexo Tom. Um ser humano que mais do que um dom tem uma vontade. Independentemente dos riscos que possa correr ele está disposto a ceder a essa vontade. O actor francês consegue criar momentos de tensão psicológica somente com um olhar, ou com um gesto da mão. Um personagem aparentemente despido de sentimentos mais profundos por algo mais do que dinheiro é afinal um sensível músico que ama o seu pai e que quer fazer a sua falecida mãe orgulhosa. Mas sem lamechices. Indiscritível o poder que Duris exerce sobre o seu público neste filme. Sem dúvida um actor de alto calibre.
De referir também a brilhante banda sonora que consegue misturar com as músicas tocadas no piano alguns dos nomes mais talentosos da música actual, como é o caso de Bloc Party, e fazer com que resultem juntas. 
A minha classificação é de 8,5/10 Etiquetas: Criticas |
Gostei bastante do trabalho de Roman Duris e de alguns pormenores da realização, que mistura o estilo com uma adequação às necessidades da história. Ainda assim, penso que o filme não consegue ser arrebatador durante toda a sua duração. Tem cenas muito boas, é certo, mas tem outras que pecam por alguma redundância e não me parece que funcionem como deveriam e poderiam. Ainda assim, é recomendável e o teu texto está muito bom.